É só para ver. Imagens – esbanjam, despudoradamente, a sua própria natureza visual. Dando resposta a interesses pontuais a aprendizagem submete-se à sedução, tanto dos novos princípios e ferramentas como às derivas de processos arcaicos. A prática artística em Acácio de Carvalho é muito mais uma forma de conhecimento e de aprendizagem, contínua e diversificada, que uma forma, inevitável, de comunicar. Assim recusa dilacerar-se em ambiguidades conceptuais, no eventual desejo retórico de se justificar.Contudo, enquanto prática consciente, não recusa a reflexão sobre o objecto produzido e é, processualmente que questiona a possibilidade de uma continuidade formal, mesmo que independente de uma aparente descontinuidade na representação. Cada página seguinte, mesmo na surpresa da solução, está disponível a uma nova experiência. Estamos perante uma colecção de suportes onde as marcas vão transformando as superfícies: na densidade rasa de uma impressão digital; na profundidade negra a que se contrapõem saliências; na transparência resinosa de volumes que pressentimos especulares, de matrizes opacas. É só para ver. Imagens – desafiam a referência de um espaço fantástico e intangível que transporta o espectador para um qualquer acontecimento cénico.Um exercício formal onde as personagens, suspensas, desafiam a gravidade, encerradas na ilusão de um espaço sem sombras.Imagens – evoluem no infinito em fluxo cromático, ainda que aprisionadas no rasto do movimento.Estas impressões digitais, génese do desejo de dar forma à motivação do gesto inicial, acabam por tornar-se símbolo da própria criação e onde realidade e representação são uma e a mesma coisa. Podemos perceber como o discurso do tempo impregnou esses objectos que, impassíveis, nos denunciam perturbando a calma do olhar. Impressões em resina e em papel que testemunham a noção de continuidade e interdependência que une as formas positivas às formas negativas. A mesma noção que une o passado ao presente. Este conjunto de trabalhos, na sua heterogeneidade, explora os limites da reconfiguração na distância matricial de um elemento ou de uma forma.Cada peça reconstitui uma realidade em fuga – momentos no presente onde o futuro recebe a impressão do passado. É só para ver.